quinta-feira, 18 de abril de 2013

Participar da missa inteira aos domingos e dias santos

Neste primeiro artigo formativo, tratarei de um ponto da doutrina que toca a vida litúrgica, questão recorrente entre os católicos, expresso no primeiro mandamento da Igreja: participar da missa inteira nos domingos e outros dias santos de guarda e abster-se de trabalho. A definição é muito clara, entretanto, farei uma análise dos seus elementos e aplicações. Incentivo, mais uma vez, que os leitores comentem as dúvidas pertinentes ao assunto.

O mandamento fala de participar da missa inteira. O que significa missa inteira? Alguns sacerdotes afirmam que é a partir da Liturgia da Palavra, outros que é a partir do Ato Penitencial, outros ainda desde o Sinal da Cruz. Para responder a pergunta recorreremos o missal:

Reunido o povo, enquanto entra o sacerdote com o diácono e os ministros, inicia-se o cântico de entrada. A finalidade deste cântico é dar início à celebração, favorecer a união dos fiéis reunidos e introduzi-los no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e ao mesmo tempo acompanhar a procissão de entrada do sacerdote e dos ministros (IGMR, n.39).

A segunda parte da frase define os dias que o católico tem o dever de participar da missa, que são os dias de preceito e o domingo – dia do Senhor. Os dias santos de guarda são aqueles dias, nos quais celebramos alguma solenidade católica que não coincide com o domingo, mas tem o mesmo valor deste. Esses dias são: Santa Maria Mãe de Deus, Epifania, São José, Ascensão de Jesus, Corpus Christi, São Pedro e São Paulo, Assunção de Maria, Todos os Santos, Imaculada Conceição e Natal. No entanto, o Brasil recebeu uma dispensa para alguns desses dias e outras solenidades foram transferidas para o domingo, de modo que só celebramos como preceito os dias de Santa Maria Mãe de Deus (01/01), Corpus Christi (quinta-feira posterior à Solenidade da Santíssima Trindade), Imaculada Conceição (08/12) e Natal (25/12). Advirto, ainda, que quarta-feira de cinzas, quinta-feira santa e sexta-feira santa não estão entre esses dias. Todos aqueles dias são celebrados desde o dia anterior à tarde. Por isso, mesmo que a liturgia não seja aquela cujo preceito se celebra, essa missa cumpre o dever cristão; realiza a “desobriga”, na linguagem popular antiga.

O último elemento, poucas vezes citado, é que o católico deve abster-se de alguns trabalhos nesse dia. Não significa fazer absolutamente nada, como pensam os judeus, mas dedicar o dia ao Senhor “se abstendo de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias” (CIC, n. 2042). Logo, se o trabalho prejudica o cumprimento do preceito, deve-se procurar outro meio de arrecadar o justo salário.

Tecnicamente, quem chega atrasado nessas missas não deve comungar, e se saiu antes do término, está impedido da comunhão, até que se confesse. A comunhão, neste caso, não é um mérito ou congratulação por ter participado da missa. O problema do recebimento da Eucaristia, aqui, insere-se no fato de cometer um pecado grave, devido descumprimento de uma lei canônica. Existe duas possibilidades de o fiel que chegou atrasado poder comungar. A primeira é que ele pode se comprometer a ir na missa ainda naquele dia (ou no dia seguinte, se for missa vespertina – celebrada no dia anterior) e, assim, cumprirá o preceito. A segunda possibilidade é que o motivo do seu atraso é justificável. As justificativas podem ser motivos de doença, imprevistos etc. O critério para juízo, todavia, sempre será a consciência do fiel.

Nas missas feriais (durante a semana) não acontece a mesma coisa, pois o mandamento não as contempla. Embora haja quem proíba um fiel comungar quando chega atrasado na missa, este não está impedido da mesma, pois não há pecado e nem haveria sacrilégio. Pensemos, para auxiliar, nas distribuições antes da missa: entre os ritos aprovados da Igreja, tem um que só contém o rito da comunhão.

Minha intenção aqui não é estimular as pessoas a entrarem na Igreja só para comungar, mas esclarecer que, caso aconteça algum atraso na missa durante a semana, isso não é motivo para impedir alguém de comungar. Quem busca a comunhão semanal deseja crescer na intimidade com Deus e receber maior número de graças. Porém, receberá graças muito maiores se participar inteiramente da missa e com melhor preparação.

Incentivo, por fim, que preparemo-nos melhor para a Santa Missa, chegando mais cedo, rezando em silêncio e lendo anteriormente as leituras que serão proclamadas. Pois, seria muito triste se alguém procurasse uma ou outra atitude simplesmente por ser pecado ou norma. Estas posturas servem para nos ajudar a não desviar do foco que é Jesus, mas se o amamos verdadeiramente, devemos buscar dar-lhe sempre mais.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Formação

Conforme era previsto na reformulação de nosso blog (no início deste ano), resolvi criar a categoria formativa. Deste modo, teremos duas publicações mensais: na primeira quarta-feira e na terceira. A primeira se classifica por opinião, conforme já expliquei, e contará com um artigo de tema livre, no qual desenvolverei alguma opinião pessoal. A segunda, que iniciaremos na próxima semana, será estritamente formativo, ou seja, seguirei algum ponto do ensino da Igreja e desenvolverei, prescindindo de qualquer opinião pessoal ou ideológica.

Peço a contribuição dos leitores com sugestões, dúvidas, críticas para que esse artigo seja de grande proveito para todos.

Esta inciativa visa unicamente cumprir a vontade de Deus. O Senhor nos permite a internet para que a usemos na evangelização. Este é um simples meio, que visa consolar o Coração de Deus. Que Ele seja amado, conhecido e adorado.

Ad majorem Dei gloriam!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Piercing, tatuagem e alargador


O desejo de transformação do corpo é algo crescente e propagador. Antes, era difícil ir a um lugar de respeito e ver pessoas com certos objetos ou marcas sobre o corpo. Hoje é difícil não vê-los. Embora seja um tema antigo, não encontramos muitas literaturas morais sobre o tema. Por isso, decidi publicar esse artigo esperando contribuir um pouco para sua reflexão e discussão, considerando a fé da Igreja como ponto de partida.

O princípio para o juízo desses elementos está no zelo pelo corpo. Independente dos movimentos que supervalorizam ou desprezam o corpo, sempre foi doutrina católica o cuidado dele como sacrário, morada da Trindade. Sendo o corpo templo do Espírito Santo, o seu dono tem o dever de cuidar do mesmo conforme a dignidade daquele que guarda.

O Catecismo trata do tema quando fala do quinto mandamento (cf. CIC 2288-2291; 2297). Se cuidar do corpo significa conservar a vida e nenhum homem tem direito de pô-la fim, com muita razão a Igreja rechaça aqueles que prejudicam sua saúde ou a põem em risco sem justo motivo. Pelo mesmo princípio, a Igreja ainda ensina que mutilar o corpo, senão para conservar a saúde, é uma ofensa a Deus.

Um outro elemento, que é muito difícil de avaliar, que entra nessa discussão, é a influência cultural, que é um patrimônio de um povo. Atualmente, sofremos a influência da ideologia neopagã, que valoriza a vida tribal em detrimento dos progressos alcançados por cada cultura. Os seus militantes pregam a cultura natural dos povos, ou seja, que cada povo deve viver as suas características primitivas e não deve sofrer influência de outros povos. Essa mesma ideia compreende que não existe valor maior em uma cultura que em outra; que todas as culturas são igualmente evoluídas; que a cultura primitiva é pura. Isso é um grande erro. Um povo pode promover sua cultura abrindo mão de elementos desumanizantes e assumindo outros que garantem o seu progresso, mesmo que adquiram de povos externos. A cultura, e o que ela carrega consigo, portanto, deve ser julgada, visando a verdade.

Retomando a questão do zelo do corpo, apresento um primeiro elemento agressivo ao corpo: o alargador. O seu uso proporciona uma deformação em um órgão do corpo - a orelha - e não traz consigo nenhum bem para saúde. Por isso, podemos afirmar, sem dificuldades, que o uso e incentivo do mesmo configuram, por ser uma mutilação, um pecado.

Para o piercing, aplico a ligação à cultura tribal. O Pe. Paulo Ricardo nos indicou uma importante ligação à sexualização de algumas regiões do corpo que não o são inicialmente. Quero abordar outra ótica, que já mencionamos: a do tribalismo. Quem usa o piercing, de modo direto ou indireto, liga-se a uma tribo, um grupo que não assume a característica cristã. É como se dissesse: “eu pertenço a essa tribo”! Além disso, em alguns casos o uso do piercing contribui para aquisição de doenças e, por isso, o seu uso torna-se condenável.



Quanto à tatuagem, não é muito diferente. A tatuagem sempre possibilita a aquisição de doenças (por esse motivo, em certo período, o tatuado fica impedido de fazer doação de sangue) e também está ligado ao movimento tribal. Portanto, se aplica o mesmo que dissemos para os outros dois elementos. Embora o catecismo não fale nada desses três itens, o YOUCAT nos ajuda a fazer uma aplicação para o caso das tatuagens. Quando o Catecismo dos jovens fala do quinto mandamento e do corpo (como fizemos aqui), apresenta o caso de pessoas que fazem “incisões¹” contra o próprio corpo. É certo que o catecismo está tratando dos que tem um problema psicológico, mas o mesmo pode ser dito para os que querem fazer cortes a fim de criar uma tatuagem: “não existe um direito humano a destruir o próprio corpo recebido de Deus”. Ainda que o desenho seja cristão, o problema não está no conteúdo da tatuagem, mas nela mesma.

“Acciones autodestructivas contra el próprio cuerpo (“incisiones”, etc) son en la mayoría de los casos reacciones psíquicas ante experiencias de abandono y de falta de amor; por eso, en primer lugar, reclaman todo nuestro amor a estas personas. No obstante, en este marco de cariño debe quedar claro que no existe un derecho humano a destruir el próprio cuerpo recibido de Dios” 
(YOUCAT, q. 387).

Mais uma vez, nossa intenção é incitar a reflexão. Poderíamos responder a tudo isso de forma muito simples: isso não coaduna com a tradição cristã. No entanto, não seria suficiente para as mentes mais críticas. O bem fundamental que desejamos alcançar é a nossa salvação. Essas coisas, por um momento, são contrárias à nossa fé, por outro são indevidos, simplesmente. Acima de tudo, são desnecessários e, se podem ser motivo de contradição, vale muito mais assumir a cruz de Cristo e renuncia-las.
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¹ A tradução portuguesa usa o termo “riscos”.