quarta-feira, 3 de abril de 2013

Piercing, tatuagem e alargador


O desejo de transformação do corpo é algo crescente e propagador. Antes, era difícil ir a um lugar de respeito e ver pessoas com certos objetos ou marcas sobre o corpo. Hoje é difícil não vê-los. Embora seja um tema antigo, não encontramos muitas literaturas morais sobre o tema. Por isso, decidi publicar esse artigo esperando contribuir um pouco para sua reflexão e discussão, considerando a fé da Igreja como ponto de partida.

O princípio para o juízo desses elementos está no zelo pelo corpo. Independente dos movimentos que supervalorizam ou desprezam o corpo, sempre foi doutrina católica o cuidado dele como sacrário, morada da Trindade. Sendo o corpo templo do Espírito Santo, o seu dono tem o dever de cuidar do mesmo conforme a dignidade daquele que guarda.

O Catecismo trata do tema quando fala do quinto mandamento (cf. CIC 2288-2291; 2297). Se cuidar do corpo significa conservar a vida e nenhum homem tem direito de pô-la fim, com muita razão a Igreja rechaça aqueles que prejudicam sua saúde ou a põem em risco sem justo motivo. Pelo mesmo princípio, a Igreja ainda ensina que mutilar o corpo, senão para conservar a saúde, é uma ofensa a Deus.

Um outro elemento, que é muito difícil de avaliar, que entra nessa discussão, é a influência cultural, que é um patrimônio de um povo. Atualmente, sofremos a influência da ideologia neopagã, que valoriza a vida tribal em detrimento dos progressos alcançados por cada cultura. Os seus militantes pregam a cultura natural dos povos, ou seja, que cada povo deve viver as suas características primitivas e não deve sofrer influência de outros povos. Essa mesma ideia compreende que não existe valor maior em uma cultura que em outra; que todas as culturas são igualmente evoluídas; que a cultura primitiva é pura. Isso é um grande erro. Um povo pode promover sua cultura abrindo mão de elementos desumanizantes e assumindo outros que garantem o seu progresso, mesmo que adquiram de povos externos. A cultura, e o que ela carrega consigo, portanto, deve ser julgada, visando a verdade.

Retomando a questão do zelo do corpo, apresento um primeiro elemento agressivo ao corpo: o alargador. O seu uso proporciona uma deformação em um órgão do corpo - a orelha - e não traz consigo nenhum bem para saúde. Por isso, podemos afirmar, sem dificuldades, que o uso e incentivo do mesmo configuram, por ser uma mutilação, um pecado.

Para o piercing, aplico a ligação à cultura tribal. O Pe. Paulo Ricardo nos indicou uma importante ligação à sexualização de algumas regiões do corpo que não o são inicialmente. Quero abordar outra ótica, que já mencionamos: a do tribalismo. Quem usa o piercing, de modo direto ou indireto, liga-se a uma tribo, um grupo que não assume a característica cristã. É como se dissesse: “eu pertenço a essa tribo”! Além disso, em alguns casos o uso do piercing contribui para aquisição de doenças e, por isso, o seu uso torna-se condenável.



Quanto à tatuagem, não é muito diferente. A tatuagem sempre possibilita a aquisição de doenças (por esse motivo, em certo período, o tatuado fica impedido de fazer doação de sangue) e também está ligado ao movimento tribal. Portanto, se aplica o mesmo que dissemos para os outros dois elementos. Embora o catecismo não fale nada desses três itens, o YOUCAT nos ajuda a fazer uma aplicação para o caso das tatuagens. Quando o Catecismo dos jovens fala do quinto mandamento e do corpo (como fizemos aqui), apresenta o caso de pessoas que fazem “incisões¹” contra o próprio corpo. É certo que o catecismo está tratando dos que tem um problema psicológico, mas o mesmo pode ser dito para os que querem fazer cortes a fim de criar uma tatuagem: “não existe um direito humano a destruir o próprio corpo recebido de Deus”. Ainda que o desenho seja cristão, o problema não está no conteúdo da tatuagem, mas nela mesma.

“Acciones autodestructivas contra el próprio cuerpo (“incisiones”, etc) son en la mayoría de los casos reacciones psíquicas ante experiencias de abandono y de falta de amor; por eso, en primer lugar, reclaman todo nuestro amor a estas personas. No obstante, en este marco de cariño debe quedar claro que no existe un derecho humano a destruir el próprio cuerpo recibido de Dios” 
(YOUCAT, q. 387).

Mais uma vez, nossa intenção é incitar a reflexão. Poderíamos responder a tudo isso de forma muito simples: isso não coaduna com a tradição cristã. No entanto, não seria suficiente para as mentes mais críticas. O bem fundamental que desejamos alcançar é a nossa salvação. Essas coisas, por um momento, são contrárias à nossa fé, por outro são indevidos, simplesmente. Acima de tudo, são desnecessários e, se podem ser motivo de contradição, vale muito mais assumir a cruz de Cristo e renuncia-las.
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¹ A tradução portuguesa usa o termo “riscos”.

9 comentários:

  1. Parabéns, Adriano, pela atitude de conscientizar a todos ! Confesso que o piercing e a tatuagem estavam presentes nos meus planos futuros. Mas ao me deparar com sua opinião, que reflete a doutrina católica (que por sinal é a minha), mudei completamente de ideia e resolvi assumir outra posição quanto a isso... espero que continue postando e idealizando, quem sabe!? rs Enfim, adorei! estarei sempre por aqui.. mais uma vez, parabéns!

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  2. A intenção do blog não é outra senão contribuir com a formação religiosa dos leitores. Fico muito feliz quando um artigo atinge o seu verdadeiro objetivo, que é promover uma reta reflexão da vida e da vivência da fé. Conto também com as devidas críticas, que ajudam a amadurecer, e sugestões de temas. Que Deus te ajude a crescer no amor a Ele e no testemunho do seu evangelho!

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  3. Muito bom seu artigo, Adriano,os jovens e os não tão jovens assim precisam de um pouco mais de realismo, da exortação do que se deve ou não. Sou contra as tatuagens e os piercing. Como você pede para que analisemos os conteúdos dos temas, veio-me uma pergunta. E os brincos?

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    1. A questão é muito importante Vânia, agradeço a pergunta. Podemos acrescentar também a questão das cirurgias plásticas. Eu já pensei sobre o tema, mas não consegui formular uma resposta completa. Te peço um tempo para pensar mais, pesquisar e depois responder. Obrigado!

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  4. Foi a melhor explicação que já encontrei sobre o assunto. Obrigada pela formação! Também aguardarei a postagem sobre os brincos. É uma pergunta que os adolescentes sempre nos fazem... Quanto às cirurgias plásticas, acredito que se elas não têm um fim corretivo necessário à saúde (há casos, como mulheres que precisam reduzir os seios por problemas na coluna) ou visam remediar deformações causadas por um acidente, elas se aplicam ao que você fala no artigo sobre mutilar-se desnecessariamente, por vaidade. Só fica pouco objetivo pensar por essa linha, seria preciso analisar cada caso especificamente. Talvez você tenha uma resposta mais objetiva.

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    1. Obrigado, Roberta, pela contribuição para os casos de cirurgias plásticas. Eu ainda não tenho uma opinião formado sobre isso. Acredito que hajam muitos casos em que elas sejam possíveis, mas não todos, como você disse. Quanto aos brincos, posso adiantar que, de modo geral, não encontro problemas, mas ainda precisaria refletir melhor.
      Mais uma vez, obrigado!

      Este espaço está aberto para contribuições. Só excluirei postagens ofensivas e polemistas. Se alguém possui alguma contribuição que concorde com o argumento do artigo, ou contrária, pode postar aqui. Nosso objetivo é atingir a verdade, pois somente ela nos torna livres.

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  5. Para responder às questões aqui apresentadas, a saber, sobre o uso dos brincos e as cirurgias plásticas, consultei meu professor Pe. Fabiano (autor do blog http://ascendat.blogspot.com.br), que nos ajudou a elucidar.
    Quando eu tratei do tema do piercing, não apresentei o argumento da mutilação, mas do tribalismo e da conservação da saúde. Quando elimina-se este último, permanece ainda o anterior. Com o brinco, a princípio, não acontece isso, pois é um acessório feminino presente em muitas culturas e, assim, a mulher fica mais arrumada e pode exaltar sua beleza, não ligando-se a uma tribo. No entanto, alguns brincos podem significar alguma obscenidade. Haja visto que, por uso de alguns brincos, caracteriza-se uma prostituta.
    No que diz respeito às cirurgias plásticas, em primeiro lugar devemos retomar o que já dissemos: se a cirurgia visa garantir uma saúde melhor não há problema. E quando não é uma cirurgia que promove a saúde, mas é corretiva? Aqui deve ser feita uma segunda pergunta: o que se quer concertar causa constrangimento? Coloca a saúde em risco? Se causa constrangimento por anormalidade, não há problema algum na cirurgia. No entanto, se há um risco de perder a vida, então deve ser evitada ou banida. Alguns tipos de cirurgia, como a plástica facial, tentam esconder coisas como a velhice. Um valor muito maior, atinge, quem aceita as consequências da velhice, pois, afinal, a soma de plásticas, que eliminam rugas, deformam o rosto da pessoa, tornando-a, aí sim, feia.

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  6. mas então ter brincos também é pecado ?! (não importando o sexo da pessoa)

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  7. nossa, como eu uso um pequeno quase brinco pensei que não fizesse mal, mas agora vejo que estou enganada! ou não?

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