terça-feira, 15 de março de 2011

Quaresma: tempo de penitências

Mais uma vez iniciamos o precioso tempo quaresmal, em que a Igreja chama-nos a uma profunda conversão. Na missa de quarta-feira de cinzas o padre rezava na oração coleta: "... que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal". É a penitência (jejum), associada a oração e a esmola que conduzem este período. Infelizmente, estamos mal acostumados a fazer mortificações. Por isso, torna-se importante relembrar algumas passagens do Evangelho que o Senhor transmite importantes conselhos.

Jesus nos exorta no evangelho de São Mateus: "Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu" (Mt 6,1). A penitência que eu realizo deve ter por finalidade a cura (ou conversão) do meu coração e o louvor de Deus, para a salvação da minha alma. Se eu a realizo com interesse de ser aclamado pelas pessoas, não receberei a condenação divina, mas também não me aproximarei d'Ele, nem terei o meu coração convertido de seus erros. Por isso, é muito louvável a prudência e a sutileza. Ninguém precisa saber da minha mortificação. Vale ressaltar que toda penitência bem feita (de modo devido) é uma boa obra, conforme exorta o Senhor na passagem acima citada, porque serve para o crescimento pessoal e comunitário.

Entretanto, o evangelista registra outro ensinamento de Jesus: "Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16). Ora, Jesus, em um momento, pede que mantenhamos as boas obras em segredo, em outro, que as façamos diante dos homens. Como devemos proceder, afinal?

A saída deste dilema é: devemos agir de tal forma que nossas ações glorifiquem a Deus. Isso dependerá da minha intenção interior e da capacidade de compreensão do ouvinte. Se meu interesse é que as pessoas vejam que eu estou fazendo penitência, elas verão e isso não me acrescentará nada. Se for simplesmente porque eu preciso emagrecer ou produzir mais trabalho (dinheiro), de nada valerá. Terei meu dinheiro ou serei mais magro, mas não receberá reconhecimento de Deus. Se estas últimas forem feitas de coração puro, tornar-se-ão justas se a finalidade é cuidar melhor do corpo, templo do Espírito Santo ou ter mais dinheiro, não para acúmulo pessoal, mas para aplicá-lo devidamente.

Aquele que realiza as mesmas mortificações para que seja libertado dos seus vícios, ou para se dedicar melhor à oração, pode contar isso para outras pessoas em forma de partilha que não estará agindo contrário ao conselho do Senhor. Os pastorinhos de Fátima sabiam conservar suas boas obras em segredo das demais pessoas, contudo partilhavam muito entre si, falando das mortificações que faziam, da alegria que sentiam por fazer a vontade de Deus e dos terços que rezavam. Isto os motivava a serem fiéis e humildes.

Nós também podemos partilhar com alguns amigos nossas penitências quaresmais e com isso motivarmo-nos a ser mais santos. Mas que seja para poucas pessoas. Quais? As devidas. Algum(ns) amigo(s) com quem sempre partilhamos, alguém que precise de uma motivação para dar mais a Deus. Enfim, devemos ter sabedoria para ver quando e com quem essa partilha deve ser feita. Se fizermos com espírito orante e humilde, eles verão as nossas boas obras e glorificarão ao Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16). Essa partilha motivará ao outro a fazer a sua mortificação, aumentará a fraternidade e tornará a amizade mais santa.

Um comentário:

  1. Que bom, Jorge Luis, que você interessa-se por esses riquezas da Igreja, pouco conhecidas.
    Obrigado pelas sugestões dos links.

    Sugiro-te, também, a respeito de Patrísticas, as audiências (catequeses) do Santo Padre:
    http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2007/index_po.htm

    Abraço!

    Que o tempo da quaresma nos leve à conversão!

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