Formação
Ainda à tempo,
neste último dia do mês de setembro, dedicado à Bíblia (melhor
seria dizer à Palavra de Deus) e dia que a Igreja celebra São
Jerônimo, quis trazer uma formação sobre um termo muito usual, mas
pouco consciente em sua significação. Desejando promover um maior
conhecimento de Cristo, que deve ser o foco de toda a Evangelização,
proponho essa temática.
O termo “Palavra
de Deus” é usado comumente para múltiplos significados. Aparece
para designar a Bíblia, uma mensagem divina ou um trecho das
Sagradas Escrituras. Entretanto, ele tem um significado próprio que,
na mesma linguagem comum, pode perder sua riqueza, pois a Palavra de
Deus, em primeiro lugar, é Jesus Cristo (cf. Jo 1). Se aqueles
significados expressam este, ótimo. Caso contrário, esvazia o mais
profundo e belo do termo.
A expressão
aparece muitas vezes assim: “a Bíblia é a Palavra de Deus”. No
entanto, a melhor construção seria “a Bíblia é o Livro da
Palavra de Deus”, pois é o livro que fala de Cristo e o revela
para nós. Jesus Cristo não é a Bíblia, mas esta contém a
Palavra, que é Ele mesmo; contém a mensagem que Ele proclama.
São Jerônimo nos ensina que a Escritura fala de Cristo e desconhecer a Escritura é desconhecer o próprio Cristo. O centro, portanto, das Sagradas Escrituas é a Plenitude dos Tempos (a Encarnação), de modo que o Antigo Testamento existe em função de Cristo e fala dele, ainda que de modo velado. Se assim o é, o autor de cada livro, necessariamente, é o próprio Deus, que se utilizou de homens, mas inspirados por Ele.
Portanto, o termo
“Palavra de Deus” é mais abrangente que “Sagradas Escrituras”
ou “Bíblia”. Digo mais, a Palavra de Deus não é encontrada
unicamente nas Sagradas Escrituras, e aqui encontramos a diferença
da postura católica e protestante, em relação às Sagradas
Escrituras. Encontramos a Palavra de Deus na Sagrada Tradição, que
conservou alguns ensinamentos de Cristo não testemunhados nas
Escrituras. Também encontramos a Palavra de Deus na Igreja, pois a
Igreja é o Corpo de Cristo (poderíamos dizer “o Corpo da
Palavra”) e possui uma assistência atual de Cristo, atualizando a
Palavra de Deus revelada e iluminando os problemas atuais.
A Bíblia não é a única realidade sagrada. É sagrada, deve receber toda
reverência, amor e inclinação, mas também a Sagrada Tradição e
a Santa Igreja são realidades sagradas que nos apresentam, em
primeiro lugar, Cristo. Por este motivo, o Concílio de Trento havia
promulgado em sua primeira sessão a igual reverência à Sagrada
Escritura e à Sagrada Tradição.
Essa visão não
nos pode fazer desprezar a Bíblia. Ao contrário, devemos ler as
Sagradas Escrituras como “pai
de família que tira do
baú coisas
novas e velhas”
(Mt 13,52). Busquemos com maior assiduidade o
estudo e leitura da Palavra de Deus (podemos falar assim sem risco de
erro). Apenas com o contato frequente com a Bíblia e plena abertura
de coração podemos ter nossa vida inserida e transformada em
Cristo.